Compreendendo que não poderia contar mais com a ajuda voluntária dos garimpeiros, principalmente por faltar-lhe a liderança do Dr. Morbeck, seu ex-amigo a quem traíra e causara tantos males, Carvalhinho fugiu para a cidade de Jatai, no vizinho Estado de Goiás, levando consigo 30 dos seus mais fiéis companheiros. Todos estes já haviam lutado ao lado do governo, destacando-se uns pela coragem e habilidades bélicas, outros pela crueldade de suas ações. Caminhavam agora em busca de dias melhores ou, talvez, pretendendo até sucesso e maiores garantias. Não sabiam, coitados, que já trilhavam para a armadilha montada pelo próprio governo de Mato Grosso que antes ajudaram e que, de agora em diante, se transformava no mais perverso e impiedoso carrasco.

Avisada pela polícia de Mato Grosso e devidamente preparada, a polícia goiana aguardava em Jatai a chegada de Carvalhinho e seu bando e, quando todos já estavam lá, surpreendeu-os prendendo todos de uma só vez, sem que pudessem reagir.

Escoltados pela polícia goiana até Três Lagoas, os presos foram entregues à polícia de Mato Grosso que os esperava. Amarrados fortemente nos pés e mãos, foram assim jogados na carroceria de um caminhão que os transportou primeiramente para Poxoréo. Na viagem que, naquele tempo demorava muitos dias por causa das estradas ruins, faltou de tudo, menos açoites e humilhações.

Próximo do povoado de Poxoréo desceram os presos do caminhão, ou melhor, derrubaram-nos, antes que pudessem descer com suas próprias pernas. A polícia arbitrária, tanto quanto o Dr. Mário Corrêa que a nomeara, encontrara naqueles homens amarrados, a oportunidade sonhada de dar vazão à covardia, demonstrando-a orgulhosamente com os atos de perversidade com que passou a torturá-los.

Estacionando o caminhão fora do povoado, faz desfilar nas ruas principais de Poxoréo o grupo de moribundos, espancados a cada instante e já exibindo em seus corpos as equimoses recentes. Carvalhinho, encabeçando o seu bando formado em fila dupla, arrastava grossas correntes presas aos pulsos.

Ao chegarem à praça principal do povoado, atualmente denominada Praça da Liberdade e onde foram enterrados o delegado Telésforo e o policial Manoel José dos Reis, mortos por eles, os policiais, os obrigaram a ajoelhar, beijar e comer terra das sepulturas onde apodreciam os corpos de suas vítimas. Um destes recusou-se a fazê-lo e foi, por isso, brutalmente espancado, até faltarem-lhe as forças; depois… ainda desmaiado, é arrastado e amarrado a um tronco de árvore, onde foi novamente espancado até depois de morto.

Levados de volta ao caminhão, foram transportados para Cuiabá, onde o grupo ja se via desfalcado de um de seus elementos que não suportara o sofrimento.

Na capital mato-grossense, novamente o cortejo de moribundos desfilava pelas ruas principais da cidade, sempre vergastados publicamente, numa demonstração de que o governo truculento e repressor do Dr. Mário Corrêa prevalecia sobre os “Tigres dos Garimpos”.

Finalmente são os farrapos humanos jogados nos cárceres infectos e nausebundos da Cadeia Pública de Cuiabá onde amargaram por dois longos anos toda sorte de torturas e privações.

A Revolução de 1930 veio, como misericóridia dos céus, socorrê-los com o indulto de Getúlio Vargas. Solto, o bando se dispersa, mas Carvalhinho volta novamente à cidade de Jataí, onde havia sido preso.