Poesias de Arlinda Pessoa Morbeck

 

Considerada pela Universidade Federal de Mato Grosso, a primeira poetisa do Estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Conheça algumas de suas poesias, poemas, pensamentos…

 

Respingos

Que frio

Que ventania?

As nuvens cobrem

O findar do dia!

Vivo sozinha

A meditar,

Vem meu amor

Me consolar!

Dá-me teus beijos

Por que não vens?

Dá-me as delícias

Que neles tens!

Vem aquecer-me

O teu calor

Me reanima!

Vem… meu amor!


 

Por quê?

 

Por que te escondes de mim?

Eu fico te procurando,

Sinto o coração arfando!

Oh!… Por que fazes assim?

 

Se teu coração tem dono

O meu não é de ninguém

Mas suporto o teu desdém

E vivo no abandono!

 

Sei que a alguém tens amor

Mas meu olhar te procura

Não é mentira nem loucura

Vivo a lutar com a dor!

 

Quando a tarde desmaiando,

Tu foges do meu olhar,

Eu queria te procurar

Fico sozinha cismando!


 

 

Araçatuba

 

Quando o automóvel rasga a estrada quente

E corre veloz teu rumo procurando,

Eu me sinto feliz porque já estou chegando

E meu coração pulsa contente!

 

Porque gosto de ti Cidade Bandeirante

Porque minto-me feliz de ti me aproximando

Meu coração agita-se palpitando,

Ao avistar tua paisagem deslumbrante!

 

Por que por ti me apaixonei! Não sei,

Desde o momento que a contemplei

 

E pisei o teu solo exuberante!

São esses versos o meu presente de Natal

Uma dádiva afetuosa, sem igual.

Que te ofereço Rainha da Variante.


 

 

Saudade

 

Viver longe de ti, é um mal que não mereço,

Vejo o mundo vazio, sem luz, sem esplendores,

Contar-te o martírio dos meus dissabores

É impossível dizer-te o quanto, assim, padeço!

 

Tu és a esperança que me alimenta a vida,

Sem ti o mundo é triste, sem gozo, sem delicias,

Eu vivo recordando teu amor, tuas carícias,

Longe de ti, minha ilusão é perseguida!

 

Como os dias são longos!… Como a luz da Esperança

Aureolando tua meiga lembrança,

Bruxuleia nos ares tentando se apagar.

 

Eu sofro!… Ninguém procura dar-me esta bonança

Na tempestade dos meus dias, na pujança,

Do Ideal que ameniza meu pensar!


 

 

O perdão

 

Perdoar o mal que me fizeste,

E que vivo a sofrer e a recordar,

Perdoar as angustias que me deste,

Porque pensei que me soubeste amar.

 

Foi a culpada a crença que diz

O meu sentimento dominar,

Mas, sorrindo, tu não compreendeste

Que são felizes os que sabem perdoar.

 

Não te perdôo, por que és um ingrato,

Roubaste o meu amor e o teu retrato,

Que eram relíquias do meu coração!

 

És cruel , és traidor, és insensato,

Não devias praticar o desacato

Por que te amo! Não te perdôo, não…!


 

 

Tenho ciúmes

 

Tenho ciúmes de ti

Do teu fascinante olhar,

Tenho ciúmes de tudo

Que tuas mãos vão pegar!

 

Tenho ciúmes da água

Que o teu corpo vai banhar

Tenho ciúmes da lua,

Que vem teu rosto iluminar!

 

Tenho ciúmes do beijo

Que vem do amor te ofertar

Tenho ciúmes do abraço

Que vem teu corpo apertar!

 

Tenho ciúmes se vais

Para longe te ausentar

Tenho ciúmes das horas,

Que me roubam o teu olhar!


 

 

Pensamento

“O amor nos ensina a perdoar, mas não nos ensina a esquecer!…”


 

 

Minhas mãos

 

Mãos velhas que foram moças

Mãos pacatas que foram boliçosas

Mãos feias que foram formosas!

 

Mãos pálidas que foram rosadas,

Mãos singelas que são desprezadas,

Mãos velhas que foram beijadas!

 

Mãos simples que foram enfeitadas,

Mãos que tiveram jóias preciosas,

Mãos que gozaram horas venturosas!

 

Mãos casadas que muito brilharam

Mãos que fulgiram à luz de esperanças,

Mãos, agora, ornadas por duas alianças!


 

Despedida

Eu vou chorando,Cuiabá querida,

Enquanto ficas te ostentando, linda!

Contigo deixo minha própria vida,

Levando n’alma esta saudade infinda.

 

Já vem chegando a hora da partida…

Longe de ti o meu pensar não finda;

Mas, nas agruras desta despedida,

Tenho a esperança de rever-te ainda.

 

Eu vou saudosa pelos teus caminhos,

Recordando o teu verde tão viçoso,

Onde revoam tantos passarinhos.

 

Mas de ti, tão tristonha, me afastando,

Levo na mente o teu painel formoso;

Adeus, Capital Verde! Eu vou chorando!


 

 

Recordando… à minha mãe

Quandoe eu parti o mar era raivoso,

Rugindo altivo sob a penedia,

E as brancas velas, trêmulas, enfunadas,

Dançavam sobre o seio da baía!

 

O crepúsculo se enfeitava de violetas,

As espumas das ondas colorindo,

E a formosa “Princesa das Montanhas”

Lentamente, de mim, ia fugindo!

 

E eu chorei, quando a noite tenebrosa

Desdobrou-se, tranqüila sobre a serra

E as estrelas luziram no infinito!

As estrelas do céu de minha terra…

 

Por que parti? Pensava soluçando,

Por meu amor, por que tudo deixei?

E o mar gemia revolvendo as vagas.

Faz muito tempo! Nunca mais voltei!…

 

(à bordo do navio francês Cordilleire)

Obs.: Poesia feita à borda do navio que a transportava, juntamente com seu esposo, com destino a Buenos Aires e posteriormente para o Estado de Mato Grosso.


 

 

O primeiro encontro

 

Naquela noite fresca, o baile era animado.

Lindos vestidos, róseos no salão deslizavam

Os cavalheiros seus pares abraçavam,

O salão estava fartamente iluminado!

 

Festejava-se da loira normalista a vitória,

Um prêmio sobre o seu busto se ostentava,

Uma medalha de ouro que brilhava,

Qual um troféu de lauréis e de glória!

 

Eu também ali estava. Era ainda bem criança.

Um moço veio pedir-me uma contra-dança.

E a orquestra vibrava no salão esplendoroso!

 

Aceitei tímida e desconfiada.

Ele era moreno de olhos negros, tes aveludada.

Oito anos depois este jovem doutor era meu querido esposo!


 

Despedida

(Professora Arlinda Pessoa Morbeck)

 

Naquela tarde fria de Novembro,

Tu me apertaste ao teu coração,

Eu soluçava em extrema comoção

Não choravas, também, eu bem me lembro.

 

Caí nos teus braços soluçando,

Era imensa tua lívida emoção

Afogavas meus cabelos e me dizias: Não

chores mais, vou e voltarei te amando.

 

Beijei tua mão que estava quente

Beijei teus lábios com o coração fremente

Minhas lagrimas me traíram, enfim!

 

-Oh!… Dizias, não tem entregas ao teu pranto

Não crês como eu te adoro e amo tanto?

-Sim, vai, mas não te esqueças de mim!


 

Tudo Passa!…

(Professora Arlinda Pessoa Morbeck)

 

Quando fico muito tempo a meditar

Nos momentos felizes que gosei

Quando teus olhares contemplei

Sentindo meu coração a palpitar!

 

Quero esquecer-te, não quero recordar,

Essas horas agradáveis que passei

Das quais jamais me esquecerei,

E esta lembrança vem me atormentar!

 

Se fui feliz eu não posso acreditar,

Os meus ideais vieram me acordar,

No reagir de minhas comoções!

 

Minha Musa quis meu sonho acalentar

No meu sonho procurou me afirmar,

Que Tudo passa – a vida é uma ilusão!!…


 

À margem do Rio

(Arlinda Pessoa Morbeck)

 

Águas cristalinas descem trepidando

na cachoeira imponente e majestosa.

Águas sadias correm murmurantes

entre as margens, água saborosa!

 

Aves pescadoras, no rio vão entrando,

aves pernaltas de plumagem formosa

a praia arenosa com o bico vão furando,

enquanto a cachoeira vai descendo orgulhosa!

 

Águas que cantam em busca da enseadas,

águas correntes pelo Sol iluminadas

em uma manhã, sob o Céu azulado!

 

Eu contemplava as águas, extasiada

e as árvores sobre as margens enfloradas

onde cantava o sabiá dourado!…

 

Rio Araguaia – M.T.


 

 

Divagações

(Arlinda Pessoa Morbeck)

 

Ok!… Quanta beleza eu vejo

neste céu límpido, estrelado,

há nesse manto azulado

tanto encanto, tanta luz,

que minha alma é pequenina

ante a beleza divina,

que me redime e seduz!

 

Há risos na Natureza,

o ar todo é perfumado,

há flores pelo silvado

que desabrocharam, também,

o Araguaia majestoso,

belezas que ninguém tem!

 

Sobre o luar prateado

dormem as colinas faceiras,

têm mais encanto as roseiras

que jogam pétalas no chão,

uma ave noturna adeja,

na torrezinha da igreja

pausa fitando a amplidão.

 

Inerte contemplo a lua,

divaga meu pensamento,

gravando-se no firmamento

mais formosa e mais azul!

O rio harpeja sonatas,

correm cantando as cascatas,

brilha o Cruzeiro do Sul!

Alto Araguaia.


 

 

Volúpias!…

 

Meu único amor!

(Professora Arlinda Pessoa Morbeck)

 

Naquela noite de grande quermesse

Eu te contemplei perto de mim,

O teu olhar despertou-me um puro amor

E nunca pensei que te amasse tanto assim!

 

Depois partiste foste ver as ondas

Nas flaldas do Recife quebrar

E, eu fiquei, sofrendo muito,

O teu meigo olhar a recordar!

 

Vai!… Lá, muito distante, teu Lar te espera,

A brisa do Mar Beijara o rosto teu!

Aqui fico recordando os teus olhares

Serenos no qual um límpido Céu!

 

Vai!… Eu ficarei contigo sonhando,

Embora, sofra da Saudade a Dor,

Ficarei esperaçosa te esperando,

Porque tu és o meu único Amor!


 

 

Pedaços de um romance!

 

Todos nós temos um Romance

na vida: Comédias, Tragédias

e Dramas.

Infância, Mocidade, Velhice.

Infância é a fase da inocência e das comédias!

Mocidade é a fase dos sonhos das tragédias!

Velhice é a fase das Recordações e dos Dramas!

 

– a autora


 

 

Rumores…

 

Lembra-te de mim

(Professora Arlinda Pessoa Morbeck)

 

Lembra-te de mim, porque eu não te esqueço

No meu coração tens um lugar reservado,

Teu amor, teus afagos, não mereço

Porque meu coração é um louco desprezado.

 

Aos rigores da sorte eu não obedeço,

Amo-te, o teu meigo olhar é sempre recordado

Do teu amor de tua constância eu careço

Mas, o impossível é meu algós cruel, ousado!

 

E continuando a amar-te eu permaneço

Embora nos anseios da Descrença, não esqueço

Pois, sem teu amor do que me serve a vida?

 

De Esperanças meus sonhares enriqueço

Quando te ausentas eu muito padeço,

Meu ideal vai procurar-te, porque julgo-me esquecida.


 

 

Beijo Roubado!

(Professora Arlinda Pessoa Morbeck)

 

Eu era ainda inocente,

Estava na flor da idade

Era simples sem vaidade

Era humilde e obediente…

 

Um dia me apareceu

Um moço alegre e formoso

Mostrou-se tão carinhoso

Para tudo que era meu!

 

Ele me acompanhava

Quanto ao longe me avistava

Satisfazendo um desejo!

 

No banco do meu jardim

Chegou-se juntinho de mim

E roubou-me o primeiro beijo!


 

Sulcando o Atlântico

(Professora Arlinda Pessoa Morbeck/ recordações a bordo do vapor < Pernambuco>, alemão)

 

Naquela noite, a terceira de repouso,

Eu sentia-me feliz junto de ti,

O calor do teu corpo era cheiroso

E dentro dos teus braços adormeci!

 

O Atlântico cantava mavioso

Um hino que nas vagas percebi,

Chegavas para mim mais carinhoso

E sonhando nos teus braços adormeci!

 

Já a aurora irradiava-se no Oriente

E as estrelas se apagavam, lentamente,

Deixando no infinito leves traços!…

 

Despertei, fitei teu olhar atraente,

O amor me dominava veemente

E, outra vez, adormeci entre teus braços!

 

(Viajando de Salvador ao Rio de Janeiro)


 

 

Dia do Papai

(Professora Arlinda Pessoa Morbeck)

 

 

Papai tu és minha vida

Papai tu é meu amor

Junto à mãezinha querida

És o emblema do vigor!

 

No Que te ofereço estes versinhos

Cem eles minha alma vai

Ofertar-te os meus carinhos

 

Papai, no meu lar ditoso

Tu és um símbolo sagrado.

És um bom pai, és um bom esposo

És um guia denodado.

 

Salve Papai neste dia

Salve Papai, meu amor!

Tu és minha alegria

Tu és o meu protetor!