Do livro: Rio Araguaia Corpo e Alma – Pág. 346.

Autor: Durval Rosa Borges.

 

“As versões sobre a figura de Morbeck divergiam e divergem. Corriam notícias de que grandes faiscadores ou compradores de diamantes do exterior, notadamente da Inglaterra, consideravam o homem como potentado de poder e de dinheiro e de grandes firmas monopolistas escreviam convidando-o para comandar o monopólio em Mato Grosso. Assim contam a história Luis Sabóia Ribeiro: “Grandes sindicatos controladores dos movimentos diamantários julgavam-no um marajá sul-americano, senhor de opulentas minas de Mato Grosso e escreviam-lhe propondo altos interesses, se se dignasse a tomar parte no monopólio. O feitio modesto e desinteressado de sua pessoa não se deslumbrou, preferindo ser o chefe em que todos depositavam cega confiança.”

Outro fato local contava que fundada uma companhia de compras de diamantes o convidaram para sócio sem entrar com capital, o que recusou desinteressadamente”.

 

 

Do livro: “Rio Araguaia Corpo e Alma”

Autor: Durval Rosa Borges

Pg.: 351 e 352

Os mesmos documentos originais, entretanto, descrevem um José Morbeck que nenhum de seus acusadores conheceu. Em 18 de março de 1923 recebia o título de Membro do Instituto Geográphico e Histórico da Bahia, sua esposa Arlinda era poetisa, suas cartas mostram absoluta correção de linguagem, em 1929 recebe pedido da Congregação da Faculdade de Direito da Bahia, em agosto de 1926 recebe homenagem de boas-vindas da população de Santa Rita do Araguaia e seu prestígio pessoal ia muito além dos limites de Barra do Garças e dos garimpos em volta. Não somente privava com dirigentes políticos e presidentes de Mato Grosso uma viagem a cavalo de Patagônia a Cuiabá durava trinta e três dias como também com o General Rondon , a quem acompanhou em explorações e recomendava a amigos.

O candidato a deputado José Carlos Pereira de Souza pede seus ofícios para bem levar sua campanha e tinha relações comerciais íntimas e respeitadas com Geremias Lunardelli, chefe de grupo financeiro no Paraná e em São Paulo.

Jamais deixou de promover movimentos e a partir de 1933 se destacou, a nível nacional, quando liderou movimento de jornalistas, políticos e industriais para reencontrar e explorar a sempre legendária mina de ouro dos Araés.

Morbeck fez algumas viagens ao local, colheu amostras, mediu distâncias e afinal embarcou para São Paulo, já tendo nas mãos um pedido de concessão para explorar ouro e diamantes na área.

Em São Paulo obteve o apoio de Assis Chateaubriand (fundador da TV Tupi) e dos Diários Associados, de Roberto Simonsen, família Diederitch, Samuel Ribeiro, Nadir Figueiredo, José Júlio Rodrigues Alves, Frederico Hollzman, Geraldo Quartim Barbosa e principalmente de Armando Arruda Pereira (Engenheiro Civil, prefeito de São Paulo de 1951 a 1953, primeiro rotariano latino americano a presidir o Rotary Internacional na gestão 1940/1941) e Francisco Siciliano Jr.

Foi apresentado em conferência na “Casa de Alberto Torres” e a iniciativa de organizar uma nova bandeira de ouro e diamantes teve o apoio declarado dos Ministros da Guerra, Góis Monteiro, e da Agricultura, Odilon Braga, e de José Macedo Soares.

Em 1935 obteve a concessão, assinada por Getúlio Vargas. Foi constituída a “Sociedade Paulista de Mineração Araés”, razão social em seguida simplificando para “Mineração Araés”, com tendência a se transformar em sociedade anônima.

A guerra, a morte de alguns fundadores com as habituais complicações de herança e exames prospectivos desfavoráveis enfraquecem a iniciativa, até que em 1956 morre o dirigente e animador José Morbeck, na cidade de Nova Iguaçu, e em 1974 a sociedade se desfez em melancolia, sem iniciar a desejada exploração da mina tão rica de episódios.

Morbeck foi líder natural de garimpeiros, primeiro brasileiro a lutar contra multinacionais, fazendeiro sem ser jamais abastado, político apaixonado, pai extremoso e rigoroso, figura de exceção no universo do Brasil Central e “injustiçado”, no julgamento conhecedor de Antônio Bilégo, primeiro Prefeito da Barra do Garças.