Depois do massacre dos maranhenses, os desordeiros formaram um grande e poderoso grupo. Ninguém ousava protestar contra o barbarismo, nem mesmo o vaidoso Reginaldo de Melo, representante de Morbeck, teve coragem de punir os culpados ali presentes no povoado de São Pedro, armados até os dentes e dispostos a fazer mais mortes.

Reginaldo, sem saber o que fazer para não desagradar à população pacata do povoado e nem ao grupo de desordeiros, ao qual também já temia, apenas dizia: “O que está feito não está por fazer”.

Entre os que fugiram depois do massacre, temendo” os desordeiros reunidos em São Pedro, estava o moço maranhense cujos familiares haviam sido mortos naquela ocasião. Este correu para Cassununga a encontrar-se com Morbeck, a quem pediu punição para os culpados.

No seu depoimento ao grande chefe do Garças, o moço pesou suas acusações, principalmente sobre Reginaldo de Melo, a quem acusava de compactuar com o grupo de criminosos.

Morbeck e Carvalinho, vindos de Santa Rita do Araguaia, já se encontravam em Cassununga, justamente a fim de se inteirarem melhor dos boatos vindos de São Pedro e de tomarem as providências que o caso do massacre requeria.

Ao chegarem os primeiros fugitivos, entre os ‘quais alguns “cabos de guerra morbequinos”, pintaram estes com tintas fortes, os pormenores do São Bartolomeu. Nesse momento começaram os desentendimentos entre Morbeck e Carvalinho.

Decidido a aprisionar os culpados, inclusive Reginaldo de Melo, Morbeck reuniu logo a sua gente. Carvalinho, que tinha despeito do mando e queria proteger Reginaldo, se opunha à sua captura, dizendo: “prendam-se os demais, porém, não se persiga Reginaldo que está inocente e é amigo dedicado nas ocasiões precisas”.

Alegação nenhuma convencia Morbeck que enérgica e desafiadoramente as repelia. Quanto mais discutiam mais se distanciavam de um entendimento, pois Morbeck era inflexível em seu propósito justiceiro. Carvalinho muito aborrecido, montou em sua mula e voltou para Santa Rita do Araguaia.

Em São Pedro, Reginaldo estava ansioso por notícias, querendo saber como Morbeck recebera as informações a respeito do massacre e desordens que estavam ocorrendo nos garimpos das Pombas. Temendo complicações, ele mesmo já tinha mandado um mensageiro ao Cassununga sondar as reações do chefão e, porque tardasse em voltar, resolveu ir pessoalmente entender-se com Morbeck. Não sabia que àquela altura dos acontecimentos, Morbeck já tomava providência para mandar prendê-lo.

Antes de terminar a viagem (trinta e muitas léguas) Reginaldo ficou de pouso na fazenda Vilela, próxima ao Cassununga.

Morbeck foi logo avisado de que Reginaldo se aproximava à frente de um grupo de desordeiros de São Pedro, pretendendo atacá-lo em Cassununga.

À ordem de Morbeck, imediatamente reuniram-se trinta defensores da vila, os quais foram incumbidos de emboscarem num barranco, na fronteiriça passagem obrigatória dos supostos atacantes.

A ordem de Morbeck era que o grupo de defensores da Vila deveria espreitar em posição dominante do terreno e sondar as intenções dos viajantes, se pacífica, dando-lhe passagem e se hostil, recebendo-os à bala, surpreendendo-os sempre em lugares estratégicos.