Os motivos da Revolução Morbeck X Carvalhinho na década de 20 tiveram início quando o então Governador de Mato Grosso, Joaquim Augusto da Costa Marques, assinou a lei nº 707, de 15/07/1915 que dava concessão à multinacional inglesa, cujo nome era – “Cia. Indústria e Comércio” – uma mineradora, que tinha como objetivo explorar as jazidas minerais, metais, metalóides, fósseis minerais etc; existentes no vale do Rio Garças e seus afluentes, desde as cabeceiras até a sua foz no Rio Araguaia.

Dr. José Morbeck (engenheiro agrônomo) como Diretor da Repartição de Terras, Minas e Colonização de Mato Grosso na época, assinou um parecer contrário a esta lei.

Esta vergonhosa concessão (entrega do patrimônio nacional ao domínio estrangeiro) à – “Cia. Indústria e Comércio” – teve apoio também dos Governadores D. Aquino Corrêa, Coronel Pedro Celestino, e por trás outro Coronel, Antonio Mota Moreira, testa de ferro da cia. inglesa.

O governador Dom Aquino Corrêa desistiu de impor a concessão após receber do Dr. José Morbeck, um singelo, expressivo e histórico telegrama com os seguintes dizeres: “Ou cai a concessão ou arrebenta a revolução”.

O governador Coronel Pedro Celestino nomeou Carvalhinho Delegado Especial da Região do Garças e do Araguaia, e agente arrecadador das minas dos garimpos. Forneceu armas, munição e 300 soldados que se juntaram aos jagunços e pistoleiros que o delegado contratou na Bahia, entre estes, o famoso Domingos Laborão que se orgulhava de aos 22 anos já ter matado 32 soldados. O governador para fortalecer esta determinação, contratou o capitão do exército Daniel Queiroz para comandar este contingente militar com a finalidade de eliminar Dr. José Morbeck e os defensores da área de mineração.

Durante o governo do Cel. Pedro Celestino Corrêa da Costa de 1922 a 1925, Dr. José Morbeck lutou a favor dos garimpeiros opondo-se também à abusiva cobrança de impostos em uma região em que o poder público era ausente, não dava assistência, e não prestava o menor serviço à população. Esta exagerada cobrança de impostos foi outra causa da citada revolução.

Outro motivo foi o massacre dos maranhenses no garimpo de Alcantilado no Córrego das Pombas no dia 22/12/1924, cujos responsáveis o então governador Cel. Pedro Celestino com o apoio do seu “testa de ferro” Carvalhinho, se calaram à punição deste ato desumano aos migrantes desta região.

Os maranhenses mortos nesta chacina eram na maioria, parentes do saudoso Senhor Ondino Rodrigues Lima, Prefeito em Alto Araguaia por vários mandatos.

Por que os historiadores cuiabanos, Cel. Octayde, Rubens de Mendonça, Estevão de Mendonça e o goiano Basileu não mencionam em seus livros em detalhes, esta vergonhosa iniciativa de entregar de mão beijada a uma multinacional inglesa a exploração da rica área de mineração do Rio Araguaia, Garças e seus afluentes? Por que se omitem também de falar dos abusos e desmandos cometidos por Carvalhinho como delegado e fiscal das minas dos garimpos a serviço do Cel. Governador?

Atiram pedras no engenheiro Dr. José Morbeck reconhecido pelo escritor Durval Rosa Borges o qual conheceu sua história, como o primeiro nacionalista do Brasil; líder e defensor de mais de 15 mil garimpeiros, trabalhadores sofridos que moravam nesta região, gente que veio do estado da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, e de outros lugares viajando à pé, à cavalo, sofrendo, adoecendo e perdendo entes queridos durante esta aventura. Por que de uma hora para outra estes trabalhadores teriam que entregar seus patrimônios construídos com o suor, lágrimas e dor para satisfazer os caprichos e interesses de governadores poderosos?

Jurandir da Cruz Xavier em seu livro “Poxoréo e o Garças” foi o primeiro escritor mato-grossense que narrou, com bastante precisão e imparcialidade, o verdadeiro desenrolar dos fatos acontecidos no velho leste (hoje sudeste) de Mato Grosso desde 1915 no governo de Joaquim Augusto da Costa Marques até 1926 no governo do Dr. Mário Corrêa, inclusive a revolução denominada Morbeck X Carvalhinho.

Milton Pessoa Morbeck Filho.